*Colunista Dafne Soul
ao luto que não cessa dei o nome de poesia
ao aperto no peito dei o nome de poesia e daí
aos pensamentos idiotas e discos furados dei o nome de poesia
ao renascimento de uma nova eu também dei o nome de poesia
ao novo transar a vida, brindei a poesia
gozei a poesia, saudei e sinto imensa saudade do que também não é poesia
ao antigo sonho ancestral rasgado, rasguei que raiva a poesia
ao não saber constante me chamei de poesia
ao teu nome ausente, não quis mais a poesia
ao sofrimento alheio, entreguei a poesia
ao grito preso na garganta que escorre olhos e poros e dores, surtou na poesia
às injustiças todas, que cruel a poesia
não traz nada de volta nem adianta o futuro, presente poesia
com as brincadeiras e com a ciência que me sustentam, me fiz poesia
até aquele seriado médico que nunca mais vi, também não enxerguei a poesia, perdi
ao choro de hoje que me tirou pra dançar, chamei ela again e dancei mesmo sem ritmo,
sou, somos poesia.
à mudança que virá,
à esperança que vive nas andanças de quem chama,
ao fim do mundo e dos outros mundos,
nada mais que a poesia sem nome e sem lugar, escrita sem nexo e sem sexo,
sem mim e sem você,
sangrará e reinventará com heresia, maestria,
todavia, também acabaria.
(Escrito em homenagem ao dia da Mulher, ao dia da Poesia, ao dia da luta contra a Discriminação Racial, ao março todo que é meu mês e a todas as particularidades de nós seres humanos que vivemos, sofremos, lutamos e continuamos desejantes cada um com brilho único sendo salvos pela arte até daquilo que não sabemos)
*Coluna Sê Todo em Cada Coisa