*Flávio Trovão
Ontem a noite, no Anfiteatro do CIE, Rondonópolis recebeu uma onda de bom humor e deboche contra o preconceito e a caretice, chamada Nany People. Artista conhecida da televisão por suas inúmeras participações – é uma menina de “programas”, segundo ela – hoje Nani pode ser vista no dominical “Vai que cola” da Rede Globo, que já contou em seus quadros com humoristas como Paulo Gustavo, falecido por complicações da covid em 2021. A dama do humor veio parar aqui graças a mais uma produção bem-sucedida da MARRUÁ Produções, empresa comanda por Roberta Pires e sua esposa, Grazy Lemes.
Em seu show de stand up pero no mucho – o show vai muito além da contação de piadas – Nani apresenta ao grande público um pouco da cultura debochada que fazia parte dos circuitos e boates gays de São Paulo e Rio de Janeiro nos anos 1990 e 2000. Para os de fora do “metiê”, que poderiam se sentir ofendidos, a performance e bom humor da artista quebram a vergonha ou embaraço até da mais pudica audiência. Aliás, fica a dica para aqueles empresários e patrocinadores locais que se negaram a colaborar com a vinda da artista: perderam!! Perderam um grande show, uma grande artista e uma chance de serem menos preconceituosos.

Foram quase 2 horas de muita risada no auditório do CIE.
Mas não é só de humor “drag” que se trata o show de Nany People. Entre uma piada e outra, um deboche e outro, ela nos conta sobre sua vida, o desafio de ser artista e homossexual há 57 anos atrás… sim, ela não esconde a idade. Transformando lágrimas em riso, Nany superou a dor e ri das muitas e duras dificuldades, desde os tempos de criança no interior de Minas Gerais, ou de garçonete do Café Piu-Piu e de bilheteira de Teatro em São Paulo.
Declama lindamente Camões, lembra-nos que os holandeses que fundam New York nos Estados Unidos são os mesmos que foram expulsos do Brasil pelos portugueses, no século XVII, em uma demonstração de que ali tem mais balacobaco cultural do que se imagina. E dá-lhe mais uma piada apimentada, brincando com a plateia, flertan com o jovem engenheiro ou com o psiquiatra: num tom hilário, mas incrivelmente respeitoso, vimos o humor feito como arte.
Ao final, é exibido um vídeo contando sua trajetória televisiva e com uma linda voz, Nany canta e declama seu desejo sob a forma de outro poema: que como ela, façamos tudo com amor.
Afinal, é disso que se trata viver.
Aplausos para Nany, People!!!!!!
*Flávio Trovão é Professor de História e Colunista do CultCircuito.