Uma vida nova, fabricada do zero: é o que promete “O vendedor de passados”  

FLÁVIO TROVÃO

Como professor de História e pesquisador de cinema estou sempre procurando bons materiais audiovisuais para pesquisas, bem como para usar em sala de aula com os estudantes de graduação ou, ainda, apenas pelo prazer de ver um bom filme. Foi nessas andanças pelas plataformas de streaming que encontrei na Netflix o título brasileiro “O vendedor de passados”, estrelado por Lázaro Ramos e Alinne Moraes.

O filme não é tão recente, estreou em 2015 e foi dirigido por Lula Buarque de Hollanda, primo de Chico, o cantor. Baseado no romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que também escreve para periódicos brasileiros e recebeu importantes prêmios por esse e outros textos literários, a trama gira em torno de Vicente (Lázaro Ramos), um escritor habilidoso em criar passados fictícios para pessoas que querem viver uma nova vida. “O passado é tudo aquilo que você lembra, imagina que se lembra, se convence que se lembra ou finge que se lembra”, afirma a personagem.

Um dia surge em seu escritório uma mulher misteriosa que deseja um “novo passado”, exigindo do habilidoso escritor apenas uma condição: ela deve ter cometido um crime. Operando justamente na contramão da maior parte das suas criações (esconder fatos obscuros e criminosos de seus clientes), Vicente a batiza de Clara e escreve um passado triste, mas com elementos de superação e força. E claro, um crime!

Como um monstro que se volta contra seu criador, Clara passa a utilizar o passado criado por Vicente para se autopromover e se tornar uma influente escritora. Nesse momento os dois percebem o complicado lugar em que ficção e realidade se (con)fundem e vão em direção a uma saída para o impasse que suas criações geraram.

As interpretações dos dois craques das telas não deixam a desejar e o ritmo narrativo empreendido por Isabel Muniz, encarregada da adaptação para o roteiro cinematográfico da obra de Agualusa, é interessante e inteligente, cativando o espectador ao longo da trama.

Ao final, a sensação de ter visto um bom filme nacional no conforto do meu sofá e de ter encontrado um ótimo material para trabalhar me empolgaram a ponto de indicar o filme em salas de aula, e por que não, também na sua sala de casa?

Título: O vendedor de passados (Brasil, 2015)

Direção: Lula Buarque de Hollanda

Onde assistir: Netflix

Trailer Oficial: https://youtu.be/bwbJf6thwps

Por Flávio Trovão

Cayron Fraga

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